Combinando salto em esqui e esqui cross-country, o combinado nórdico é uma das modalidades que estão presentes no programa olímpico desde os primeiros Jogos Olímpicos de Inverno, há 100 anos, em 1924. A história do combinado nórdico, porém, é bem mais antiga e remonta aos tempos em que os caçadores se valiam do uso de esquis não apenas para caçar e se locomover em países frios, mas quando o equipamento também era uma forma de socializar.
A própria palavra “esqui” deriva de “skid”, termo norueguês que significa “madeira cortada ao meio”. Assim, o combinado nórdico surgiu na Noruega, ainda no começo do século 19, como forma de diversão dos soldados noruegueses. Mas a primeira grande competição da modalidade aconteceu no famoso festival de esqui Holmenkollen, em Oslo.
Segundo conta a história, o combinado nórdico foi uma das atrações principais do evento. Pessoas de diferentes cidades e também dos países vizinhos se reuniram para se divertir e realizar diferentes competições na neve. O festival tornou-se tão popular que ainda hoje acontece; e até mesmo o Olav V, rei da Noruega, participou dele como saltador na década de 1920. Foi também neste período, mais precisamente em 1924, que a Federação Internacional de Esqui (FIS) surgiu. Com isso, rapidamente o combinado nórdico se profissionalizou.
Como funciona o combinado nórdico
Explicada a história do combinado nórdico, o esporte parece ser bem simples. Afinal, é uma prova de salto seguida de outra de esqui cross-country. No entanto, é uma modalidade que exige bastante do atleta, tanto física quanto mentalmente. Veja a seguir como se realiza cada etapa da modalidade:
Salto em esqui
A competição começa com o salto. Aqui, a prova acontece da mesma forma que uma prova de salto normal. Cada atleta, porém, salta apenas uma vez. A distância que o competidor alcança bem como a técnica que ele utiliza são os parâmetros para os juízes, que atribuem uma nota a cada um deles.
No quesito distância, atribui-se 2 pontos por metro na colina pequena e 1.8 pontos por metro na colina grande. Ou seja, quanto mais longe o atleta for, maior a nota. Já no quesito estilo, cada juiz atribui uma pontuação que varia entre 1 e 20 pontos. Contudo, dificilmente uma pontuação de estilo será menor do que 7.
Esqui cross-country
Em seguida, vem a parte do esqui cross-country, na qual os participantes devem percorrer um trajeto de 10 quilômetros correndo sobre os esquis. A ordem de partida é determinada de acordo com os pontos calculados na etapa dos saltos. Ou seja, aquele saltador que obteve a maior nota larga na frente, enquanto os demais partem em seguida, seguindo a classificação de acordo com a pontuação da primeira etapa.
A diferença de tempo entre as partidas entre cada atleta é baseada na diferença de pontos entre eles, em que cada ponto equivale a uma penalidade de tempo. Por exemplo: na competição individual, cada 15 pontos de diferença equivalem a uma penalidade de um minuto.
No fim, nas categorias individuais, o primeiro atleta a cruzar a linha de chegada é o campeão da prova. Já nas provas em equipe, a soma das notas dos quatro representantes de cada país no salto segue como fator determinante para a ordem de largada. Na etapa cross-country, porém, cada integrante da equipe corre cinco quilômetros no estilo revezamento. A prova termina quando o quarto membro do time cruzar a linha de chegada, e vence a equipe cujos integrantes chegarem primeiro.
A pista da etapa de salto
Diferentes partes compõem a pista de salto da primeira etapa da competição. A torre da qual partem os atletas é chamada de “colina de salto”, e sua altura depende do local onde a prova será realizada. As provas de rampa normal partem da chamada “colina menor”, conhecida como 95k – que é a distância entre o local de decolagem e o ponto de referência chamado K. Já a rampa longa parte da chamada “colina maior”, cuja distância até o ponto K é de 125 metros.
O local de onde os competidores partem no alto da colina se chama portões de largada. De lá, eles atravessam a pista em si, que é feita com uma superfície artificial coberta de gelo. Em seguida, os atletas chegam até a plataforma de decolagem. Trata-se de uma região com uma pequena inclinação de cerca de 10 graus. É isso que dá impulso ao atleta para realizar seu salto. Logo após a plataforma, vem a encosta de pouso, que, como o nome sugere, é onde os competidores devem começar a pousar seus esquis após o salto. É nessa área também que fica a torre dos técnicos e, ao lado, a torre dos juízes que avaliam a distância e o estilo de cada salto.
A pista depois da encosta de pouso se divide em chegada; ponto K – também chamado de ponto crítico –, que nada mais é do que uma marcação que serve de referência para os juízes; área de frenagem, que serve para o competidor diminuir a velocidade após o pouco; e saída, que é por onde o atleta deixa a pista de competição.
Os equipamentos utilizados pelos atletas de combinado nórdico
Os competidores utilizam diferentes equipamentos em cada etapa da disputa. Na parte de salto, cada participante realiza seu movimento com esquis feitos para esse fim, feitos em material mais rígido e também mais largos que os de corrida. Além disso, é obrigatório o uso de capacete de proteção de acordo com o regulamento da modalidade.
Já no esqui cross-country, cada competidor deve utilizar esquis apropriados para corrida na neve, com extensão que varia entre 1.72m a 2m. Os atletas também usam uma bota que tanto serve para controlar lateralmente os esquis, como também fornecer suporte ao tornozelo de cada um, Sua sola é rígida e também funciona como um escudo móvel para os pés. As botas são afixadas nos esquis por meio de ligações colocadas no ponto em que o peso do competidor se concentra. Isso ajuda a aumentar a aderência do esqui na neve, dando ao participante uma maior estabilidade.
Uma touca também faz parte dos equipamentos obrigatórios. O uniforme, por sua vez, deve ser feito em lycra. Além disso, precisa ser justo a fim de dar mobilidade ao corredor, mas leve, para um melhor controle da temperatura corporal. Os atletas também podem utilizar óculos para proteger os olhos da claridade do sol na neve e de eventuais pedaços de gelo que possam se desprender do esqui.
Por fim, cada corredor utiliza um par de bastões feitos em grafite e kevlar, projetados para serem leves e finos, porém resistentes. Suas pontas mais finas que o restante de seu comprimento servem não apenas para dar mais estabilidade durante a corrida, mas também tornam o movimento de recuperação mais fácil e rápido, o que funciona como forma do atleta conseguir mais impulso ao longo da prova.
A história do combinado nórdico olímpico
Uma vez que o esporte surgiu na Noruega, não é de se espantar que a maioria das conquistas olímpicas sejam dos nativos deste país. Desde sua estreia nos Jogos de Inverno de Chamonix, em 1924, os noruegueses dominaram a competição. Somente em 1960 o domínio nórdico foi quebrado, quando Georg Thoma, da antiga Alemanha Ocidental, levou o ouro em Squaw Valley.
Hoje, a Alemanha está em segundo lugar no número de medalhas do combinado nórdico, no entanto, ainda bem distante do primeiro colocado. Enquanto a Noruega tem 35 medalhas (sendo 15 de ouro, 12 de prata e outras oito de bronze, o país tem “apenas” 16 medalhas (seis de ouro, seis de prata e mais quatro de bronze). A Alemanha também se destaca como o local de nascimento do atleta mais premiado da categoria: Eric Frenzel. Ao todo, o atleta germânico conquistou sete medalhas – incluindo três ouros, duas pratas e dois bronzes. Em terceiro, vem a Finlândia, com suas 14 medalhas (sendo quatro de ouro, oito de prata e duas de bronze).
Um fato curioso da história do combinado nórdico é que, por anos, apenas as modalidades individuais estavam no programa olímpico de inverno. As competições por equipes entraram para as olimpíadas somente em 1988, nos Jogos de Calgary, no Canadá. Por fim, ainda hoje, existem apenas categorias masculinas no combinado nórdico olímpico. Apesar de existirem diversas praticantes do gênero feminino de combinado nórdico, apenas em 2017 ocorreu o primeiro Women’s Nordic Combined National Championship, nos Estados Unidos, ou seja, o primeiro campeonato feminino do esporte.
Jogos Olímpicos de Inverno Milano Cortina 2026
A Itália será a anfitriã das próximas olimpíadas de inverno, que se realizarão em 2026. O evento se dividirá entre as cidades de Milão e Cortina. Na ocasião, ocorrerão três provas de combinado nórdico:
- Individual Gundersen NH pequena colina/10 km
- Colina grande individual Gundersen LH/10 km
- Equipe Gundersen LH grande colina/corrida de 4×5 km
As provas serão realizadas na região de Val di Fiemme, com as provas de salto ocorrendo em Predazzo e as de esqui cross-country, em Tesero. Infelizmente, diferente de outros esportes na neve, o Brasil não tem nenhuma equipe olímpica de combinado nórdico, ou seja, o país não terá nenhum representante na modalidade em 2026.