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Descubra a trajetória do Gigante carioca e como ele alterou os rumos do futebol brasileiro

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Resistência antirracista, união popular e bola no pé são as marcas do Gigante da Colina. A história do Vasco da Gama, além de ser conhecida como uma das mais bonitas do futebol brasileiro, é também um importante marco do esporte.

Neste ano, o Vascão completa 100 anos da famosa “Resposta Histórica”, quando o time se recusou a banir 12 jogadores do clube por serem negros e analfabetos, vítimas da discriminação do futebol elitista da época.

Quer tudo sobre a história arrepiante de um dos maiores times do Brasil? Confira aqui. 

125 anos de história do Gigante da Colina 

Durante mais de um século de trajetória, a história do Vasco da Gama foi constituída de altos e baixos, triunfos e derrotas, além de vários títulos nacionais e internacionais e uma torcida extremamente dedicada e apaixonada. Veja mais nos detalhes a seguir.

Do Remo ao Futebol

Na atual capital da república, a cidade do Rio de Janeiro tinha o remo como um esporte soberano. Eventualmente, um grupo de 62 jovens (com a maioria sendo de imigrantes portugueses), praticantes do remo, foi responsável por fundar o Clube de Regatas Vasco da Gama, em 1898.

Entretanto, apesar do sucesso no esporte aquático, não demorou muito para o Vasco se tornar o gigante dos campos.

No ano de 1916, em uma fusão com o time português “Lusitânia”, trazendo consigo uniformes, chuteiras e bolas de futebol, o Vascão realizou o requerimento de filiação à Liga Metropolitana de Futebol. Recebendo sua aprovação logo após, em 29 de fevereiro do mesmo ano.

O clube do povo

Ao contrário dos tradicionais times cariocas da época, um dos maiores marcos da história do Vasco da Gama foi buscar os maiores talentos para vestir o manto Cruz-maltino sem discriminação de raça ou classe social.

Dessa forma, o time ficou composto não apenas pelos portugueses imigrantes, mas também por negros, analfabetos e operários, que direcionaram o time a vitórias jamais vistas.

Da estreia na Série A ao topo do futebol carioca

Foi na liderança de Cândido José de Araújo, presidente negro eleito pelo clube, que o Gigante da Colina foi campeão da Série B, em 1922, e estreou na Série A, em 1923.

Nesse ano, o time carioca fez uma campanha quase impecável, com 11 vitórias, dois empates e apenas uma derrota. Por consequência, o clube do povo subiu no topo do pódio do Campeonato Carioca pela primeira vez.

100 anos da Reposta Histórica do Vasco da Gama

Com a conquista triunfante do Vascão, a elite do futebol carioca não viu com bons olhos a perda de um título importante para um time formado por imigrantes, negros e analfabetos como o Vasco da época. 

Dessa forma, a Liga dos times tradicionais logo fez oposição ao clube e, assim, o Cruz-maltino começou a sofrer obstáculos para continuar nos campos. Um deles foi a impossibilidade de analfabetos competirem no campeonato.

De frente com esse embate, o então Campeão Carioca não esmoreceu. Recebeu a ajuda do associado e bibliotecário, Custódio Moura, que ensinou os jogadores a ler e escrever o necessário para se inscreverem na competição.

Mais barreiras para o Gigante da Colina

Os obstáculos não pararam por aí. Cerca de um ano após a grande vitória, os times rivais se uniram para formar a Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA), que reunia os principais clubes de futebol do Rio. 

O Vasco, com o desempenho notório no campo, foi convidado pela elite, mas o convite vinha com a seguinte restrição:

  • a exclusão dos 12 jogadores negros e/ou pertencentes da periferia carioca.

O motivo? Supostamente, eles não teriam “condições sociais apropriadas para o convívio esportivo”.

Foi aqui que o Vasco entrou para a história da luta antirracista do futebol brasileiro e formulou a famosa Reposta Histórica.

Documento de resistência e união alvinegra

Há 100 anos, no dia 07/04/1924, o então presidente do clube, José Augusto Prestes, redigiu e assinou o documento conhecido como “Resposta Histórica”. Nele, Prestes recusa a participação do Vasco na AMEA em favor da manutenção dos 12 jogadores discriminados pela elite do futebol carioca.

Parte do documento escrito em português da época:

“Estamos certos que V. Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um acto pouco digno da nossa parte, sacrificar ao desejo de fazer parte da A.M.E.A., alguns dos que luctaram para que tivessemos entre outras víctorias, a do Campeonato de Foot-Ball da Cidade do Rio de Janeiro de 1923. Neste termos, sentímos ter que comunicar a V. Exa. que desistimos de fazer parte da A.M.E.A.”

Foi nesse contexto histórico que o Vasco fortaleceu o elo com as camadas mais populares, que se viram representadas dentro de campo. Isso, naturalmente, aumentou a popularidade do time e firmou bases sólidas entre torcedores, jogadores e o clube enquanto instituição.

Mal visto por esse público, a exclusão do Vascão da AMEA pouco durou. Após uma série de eventos e vitória invicta do time em um torneio organizado pela LMDT, os alvinegros foram novamente convidados a entrar na liga. 

Dessa vez, o espaço para os negros, semianalfabetos e operários estaria garantido. Assim, o Gigante da Colina abriu portas não apenas para aqueles 12 jogadores, mas também para todos os outros que se seguiram na história até hoje.

São Januário: o fruto da união do povo que se tornou a casa do Vasco

A força vascaína fazia com que todas as partidas do Vasco lotassem os estádios alugados pelo time. Isso e as vitórias do clube faziam com que fosse impossível não reconhecer a grandeza do time, apesar da contínua resistência da elite.

Em mais uma resposta a esses obstáculos, o Vasco construiu o São Januário, sua primeira e única casa. Tudo isso com a ajuda e união da torcida. 

Em mobilização histórica, o clube, conhecido como os Camisas Negras, arrecadou 685 contos e 895 mil réis para a compra do terreno e construção do estádio cruz-maltino, em 1925.

Localizado na região portuária, para lembrar as origens do Vascão, o São Januário foi inaugurado em 21 de abril de 1927. 

A partida de estreia da nova casa alvinegra foi marcada por uma derrota de 5 x 3 para o Santos, mas a felicidade da torcida e do time com o novo lar era tanta, que pouco afetou os ânimos no estádio. 

O Gigante da Colina é também o Gigante do Futebol Brasileiro

Quando o Vasco começou, ainda envolvido pelo esporte aquático, não imaginava que seria protagonista de uma das histórias mais bonitas do futebol brasileiro. 

A resistência e paixão do clube e da torcida fizeram do Vasco da Gama um gigante na luta contra a desigualdade racial, refletindo positivamente na história de todo o futebol nacional.

Além disso, o Gigante da Colina não imaginaria que os anos o transformariam em uma das instituições de futebol mais importante do Brasil. Carregando na história do Vasco da Gama diversas vitórias espetaculares, ídolos inesquecíveis e títulos memoráveis no Brasil e no mundo. 

Naquela época, era difícil sequer imaginar que a história que nascia dos sonhos de jovens marginalizados pela sociedade, se tornaria a paixão centenária que envolve milhões de corações brasileiros e inspira gerações.