O dia 21 de setembro de 2023 foi bastante cinza para o vôlei brasileiro. Na data foi anunciado o falecimento da campeã olímpica Walewska Oliveira, com apenas 43 anos. A jogadora estava aposentada havia cerca de um ano, mas era dona de uma carreira invejável no voleibol mundial.
Walewska fez parte da vida de quem acompanhava os esportes na década de 1990, tempo em que o vôlei disputava com o futebol a preferência da torcida brasileira. Era o período em que grandes nomes do esporte como Ana Moser, Leila, Virna e Fofão se destacavam nos programas esportivos. A seguir, conheça a trajetória da mineira em seus mais de 30 anos de voleibol.
O começo de tudo
Walewska Moreira de Oliveira nasceu no dia primeiro de outubro de 1979, na cidade de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Desde pequena, ela sempre foi incentivada a praticar esportes pelo seu pai. Assim, ela cresceu gostando de variadas modalidades. Uma das brincadeiras favoritas de Walewska era, justamente, jogar vôlei na rua com os amigos.
Preocupado, então, com a chance de sofrer qualquer tipo de acidente nessas “brincadeiras”, o pai de Walewska resolveu buscar uma escolinha para ela. A ideia também era fazer com que ela treinasse com a orientação e a disciplina de um professor. Assim, novamente incentivada pelo pai, a jovem começou a praticar vôlei de forma mais séria.
Mas foi o professor de educação física da escola em que Walewska estudava uma das peças fundamentais para a carreira da atleta. Isso porque ele percebeu logo o potencial da jovem aluna. O professor tinha contato no Minas Tênis Clube, um time de vôlei da capital mineira, e recomendou que Walewska participasse da seleção para a equipe.
Embora seu pai estivesse receoso, a adolescente fez o teste para o time e, sem surpreender ninguém, foi aprovada. Assim, em 1995, com apenas 16 anos e estudante do Ensino Médio, Walewska começou sua trajetória no voleibol de quadra profissional junto ao Minas Tênis Clube.
Os primeiros anos no vôlei profissional
Ainda adolescente, Walewska Oliveira já sentia o peso do compromisso que a dedicação ao esporte exigia. Em determinado momento, ficou cada vez mais complicado conciliar os estudos com o esporte e, quando a jovem se viu obrigada a escolher um dos dois, não hesitou: escolheu o vôlei. Em um documentário no qual fala sobre seus 30 anos de carreira, a atleta destaca que ter optado por deixar os estudos de lado fez com que ela sentisse uma responsabilidade ainda maior de “dar certo” no vôlei.
Mas não demorou muito para que a jovem e sua família confirmassem que tinham feito a escolha certa. A meia-de-rede demonstrou uma habilidade incrível em quadra, sendo convocada para participar da seleção brasileira juvenil. Com isso, ela chamou a atenção de ninguém menos do que Bernardinho, que a convidou para atuar no Rexona.
Aquela foi a oportunidade de uma vida para Walewska. Embora a cobrança e a dificuldade aumentassem significativamente, a adolescente estava feliz por treinar com um técnico renomado e conhecido por levar suas atletas ao máximo. Mais uma vez, o risco era alto, mas não demorou muito para que investimento se pagasse. Junto ao Rexona, Walewska foi campeã do Campeonato Carioca na temporada 1999/00 e, também, a Superliga Feminina no mesmo período.
A chegada de Walewska Oliveira à seleção brasileira
Além de ser técnico do Rexona, na segunda metade dos anos 1990 era Bernardinho quem também conduzia a seleção brasileira de vôlei. Assim, não demorou muito para que Walewska também fosse convocada a defender as cores verde e amarela em quadra. Em 1998, meses antes de completar 18 anos, a jovem recebeu sua primeira convocação para um jogo amistoso contra a seleção japonesa.
Muito embora fosse uma partida amistosa, foi o suficiente para a menina se sentir realizada. Mas Walewska estava apenas começando. Em 1999, a meia-de-rede deu início a uma sucessão incrível de vitórias pela seleção canarinho. Para começar, ela esteve na equipe que disputou os Jogos Pan-Americanos de Winnipeg, levando a medalha de ouro para casa.
A chegada de um novo século trouxe mais vitórias. Em 2000, Walewska participou pela primeira vez de uma edição dos Jogos Olímpicos, em Sydney, na Austrália. A campanha não foi fácil, e as brasileiras acabaram ficando fora da disputa pelo ouro. No entanto, não teve para mais ninguém na briga pelo bronze. O jogo foi apertado, mas mesmo assim, Walewska e suas companheiras derrotaram os Estados Unidos por 3 sets a 1, com parciais de 25/18, 25/22 e 25/21.
Novo técnico, novos desafios
Em 2003, Bernardinho deixou a seleção brasileira, com Roberto Guimarães assumindo o posto. Agora veterana na equipe, Walewska Oliveira passou a se dedicar a treinar para o próximo desafio da equipe: os Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Como se não bastasse o tempo de treino junto ao novo técnico fosse pouco, a meia ainda enfrentou outro problema. A equipe médica constatou uma lesão no joelho causada pelo desgaste decorrente da sobrecarga de treinos.
Dava-se início a uma verdadeira corrida contra o tempo para que a mineira voltasse a jogar em sua completa capacidade física. O esforço gerou resultados, e eles puderam ser comprovados na Grécia. Era a segunda vez que Walewska participava de uma olimpíada e o Brasil chegou com tudo no torneio. No entanto, na semifinal, veio um jogo que os torcedores brasileiros preferem esquecer.
Era a chance do Brasil finalmente disputar uma final olímpica após cair nas semifinais nas três edições anteriores. Aquela altura, a seleção enfrentava a Rússia em uma partida que parecia ganha, uma vez que o Brasil havia ganho os dois primeiros sets. Contudo, na volta para o terceiro e decisivo set, a equipe não parecia mais a mesma.
A equipe russa venceu o terceiro set com relativa facilidade, mas foi o desempenho no quarto set que deixou a torcida ainda mais decepcionada. A seleção brasileira teve seis oportunidades de match point, ou seja, de fechar o set e o jogo. No entanto, deixou escapar todas. E comprovando o clichê que diz que quem não faz, leva, o Brasil levou feio da Rússia. As oponentes não apenas viraram o set como a partida em si, ganhando por 3 a 2 e se classificando para a final.
Com isso, o Brasil disputou o bronze com sua rival de longa data, a seleção de Cuba. E foram as cubanas que levaram a melhor, com Walewska e sua equipe ficando apenas em quarto lugar.
Walewska desponta no vôlei internacional
A derrota em Atenas não abalou a confiança de Walewska, que seguia jogando no São Caetano. Após as Olimpíadas, no entanto, a meia recebeu uma proposta e tanto: deixar o Brasil e ir jogar na Itália, defendendo o Sirio Perugia. A mineira então atravessou o Atlântico e foi para a terra da pizza, onde fez uma campanha incrível.
Junto ao time italiano, Waleska Oliveira se tornou campeã da Champions League feminina de vôlei em 2005/06, bicampeã da Serie A italiana e da Challenge Cup, além da Italian Cup, as três nas temporadas de 2004/05 e 2006/07, e, por último, conquistou o título da Coppa de Lega em 2005/06.
Waleska ficou na Itália até 2007. Em seguida, a jogadora passou uma temporada no Grupo 2002 Murcia, da Espanha, de onde foi para o VC Zarechie Odintsovo, na Rússia. Na única temporada em que jogou pelo time espanhol, porém, a brasileira conquistou três importantes títulos: a Spanish Superliga, a Spanish Super Cup e a Spanish Cup. E pela equipe russa, mais um título conquistado: o da Superliga Russa.
Enfim, o ouro olímpico
Em 2008, a seleção brasileira participou novamente dos Jogos Olímpicos, agora realizados na cidade de Pequim, na China. Era a chance de enfim chegar a uma final olímpica – e mais: trazer a medalha de ouro para casa. A preparação foi intensa, e não se limitou aos treinamentos físicos.
O técnico José Roberto investiu pesado também no relacionamento entre as atletas, na postura dentro de quadra, no comprometimento e, claro, na questão mental das jogadoras. Tanto esforço não poderia alcançar outro resultado. O Brasil foi feroz e, partida a partida, alcançou a sonhada final após derrotar Argélia, a temida Rússia, Sérvia e Itália; depois vencer o Japão nas quartas-de-final e a China na semi. Novamente, o time se viu frente a frente com a seleção dos Estados Unidos. Agora a briga era pelo ouro olímpico e, dessa vez, o Brasil levou a melhor, vencendo por 3 sets a 1 (25-15, 18-25, 25-13, 25-21).
Walewska Oliveira retorna ao Brasil
As Olimpíadas de Pequim marcaram também a despedida de Walewska da seleção brasileira, uma vez que não estava fácil conciliar a equipe com sua carreira no vôlei europeu, além dela estar focada em se dedicar mais à família, amigos e a própria vida pessoal. Ainda assim, posteriormente, em 2011, ela deixou a Europa e decidiu voltar de vez ao seu país de origem.
Entre 2011 e 2019, Walewska passou por diferentes clubes de vôlei no Brasil. A mineira atuou no Vôlei Futuro, Vôlei Amil, Camponesa/Minas, Dentil/Praia Clube e Osasco/Audax. Em 2019, ela retornou ao Dentil/Praia Clube para aquela que seria sua última equipe antes da aposentadoria. Após a saída de Waleska, o Praia Clube também “aposentou” a camisa 1 da equipe, que era vestida pela atleta, como forma de homenagem.
Por fim, após deixar as quadras, a ex-jogadora se dedicou a outros projetos, dentre eles, sua própria biografia. Até que, em outubro de 2023, Walewska Oliveira faleceu após cair do do 17º andar do condomínio em que vivia, em São Paulo.
Histórico de títulos de Walewska
Entre as conquistas alcançadas por Waleska na seleção brasileira, além dos clubes do Brasil e da Europa, a mineira soma mais de 30 títulos. Confira a seguir quais:
No Brasil
- Superliga Feminina na temporada de 1999/00 (pelo Rexona/Ades) e de 2017/18 (pelo Dentil/Praia Clube)
- Campeonato Carioca de 1999/00 (pelo Rexona/Ades)
- Campeonato Paulista de 2011/12 (no Vôlei Futuro)
- Tricampeonato Mineiro em 2015/16, 2020/21 e 2021/22 (todos pelo Dentil/Praia Clube)
- Troféu Super Vôlei de 2020 (com o Dentil/Praia Clube)
- Supercopa do Brasil nas temporadas de 2019/20, 2020/21 e 2021/22 (todas pelo Dentil/Praia Clube)
- Sul-Americano de Vôlei em 2021 (Dentil/Praia Clube)
Na Europa
- Champions League Feminina em 2005/06 (Sirio Perugia)
- Italian Serie A nas temporadas 2004/05 e 2006/07 (Sirio Perugia)
- Challenge Cup em 2004/05 e 2006/07 (Sirio Perugia)
- Italian Cup em 2004/05 e 2006/07 (Sirio Perugia)
- Coppa di Lega de 2005/06 (Sirio Perugia)
- Spanish Superliga de 2007/08 (Grupo 2002 Murcia)
- Spanish Cup de 2007/08 (Grupo 2002 Murcia)
- Spanish Supercup de 2007/08 (Grupo 2002 Murcia)
- Superliga Russa na temporada 2009/10 (Zarechye Odintsovo)
Na Seleção
- Jogos Pan-Americanos Winnipeg: 1999
- Sul-Americano: 1999, 2003 e 2007
- Grand Prix: 2004, 2006 e 2008
- Jogos Olímpicos de Pequim: 2008